segunda-feira, 18 de abril de 2011

Jacuzzi

Do que se fez esse conto:



Conheci Nicole na faculdade e me apaixonei por ela imediatamente. Depois de um mês começamos a namorar e não desgrudávamos um do outro: de dia na faculdade, de noite nas baladas com os amigos e aos domingos no sofá da casa da Nicole.
Quando nos formamos e começamos a trabalhar, alugamos um apartamento e fomos morar juntos. E a vida não poderia ser melhor... Ela me acordava todo dia com um beijo em meus olhos. Eu fazia para ela um suco de morango que era minha especialidade, ela fazia pra mim seu delicioso sanduíche de ricota. Deixava Nicole no trabalho e o dia corria lento até que nos reencontrássemos.
Até que fui promovido no jornal no qual trabalhavo e comecei a exercer a função de editor. Na mesma época, Nicole conseguiu um bom emprego numa rede de TV, mas teria que entrar às seis da manhã. Quando eu chegava em casa, de madrugada, Nicole já estava dormindo há muito tempo. Quando ela saía, eu estava no décimo sono.
Outro dia, quando cheguei em casa tarde da noite e reparei na reforma que fizemos no banheiro com nossos novos gordos salários: Do lado esquerdo do banheiro, onde antes tinha o chuveiro, colocamos uma jacuzzi para tomarmos banho juntos. Fazia um mês que estava ali e nós nunca tínhamos usado. O dinheiro que estava ganhando a mais estava me custando caro. A experiência e o crescimento profissional me deixavam empolgados mas a falta de tempo me angustiava. A imagem da Jacuzzi vazia me deprimia.
Num impulso fui para a cozinha e fiz o suco de morango que Nicole adorava e coloquei a jarra com um copo do lado da jacuzzi e fui dormir. Quando acordei no outro dia, encontrei no mesmo lugar o sanduíche de ricota que ela sempre fazia para mim.
E a jacuzzi virou nosso ponto de encontro. Deixava lá para ela o suco, um jornal com uma matéria legal, um cd para ela ouvir no carro. Ela deixava um sanduíche, um livro bacana, uma foto do sobrinho que tinha ido visitar.
Numa noite dessas eu cheguei em casa e ela dormia na jacuzzi. Deitei ao seu lado e nos encontramos no sonho. “Sinto sua falta”, ela me disse. De mãos dadas saímos nadando em direção ao fundo do mar. Depois de passar por peixes exóticos chegamos num lugar muito profundo e escuro, onde o silêncio reinava soberano, o mundo parecia não existir e o tempo, finalmente, era só nosso.